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Artigo de Opinião: Dr. Francisco Vani Bemfica

*Por Morvan Acayaba de Rezende

Faleceu no sábado, dia 22 do mês de janeiro do corrente ano, nesta cidade, aos 97 anos de idade, o Doutor Francisco Vani Bemfica. Figura ímpar os meios forenses, jurídicos e educacionais, foi Juiz de Direito da Comarca de Varginha durante muitos anos. Sua vinda de Carmo do Rio Claro para Varginha, no início de 1963, foi de grande benefício para a Comarca, para a Cidade e para a região.

Ele sucedeu ao meu tio, Doutor José Nogueira Acayaba, que faleceu em novembro de 1962, em pleno exercício de suas funções, e na idade de
64 anos, depois de uma mal sucedida intervenção cirúrgica. Meu tio, que não tinha filhos, sempre foi muito afeiçoado a toda a família, inclusive aos sobrinhos.

Algum tempo antes de sua morte, numa conversa comigo, relatou-me que havia participado de um encontro de Juízes em Cambuquira e que lá conheceu o Doutor Francisco Vani Bemfica, afirmando que tivera dele uma ótima impressão, como Juiz preparado, operoso e enérgico, além de jovem. Afirmando que seria ele o ideal para sucedê-lo como Juiz em Varginha, pois o seu propósito era promover-se para Belo Horizonte e
aposentar-se.

Por uma dessas estranhas coincidências, no dia seguinte do sepultamento do meu tio, ainda muito traumatizado pela sua perda prematura, lembrei-me dessa conversa e telegrafei ao Doutor Bemfica em Carmo do Rio Claro, sugerindo para que se candidatasse para vaga de Juiz de Direito de Varginha.

Ele o fez e veio para nossa cidade, na companhia de sua esposa, Dona Siomara e dos três filhos do casal, ainda menores, aqui fixando-se
definitivamente. Nesses 60 anos de convivência cordial e fraterna com do Doutor Bemfica, tive ocasião de testemunhar fatos relevantes de sua vida.

Assumindo os destinos da Comarca, desde o início se revelou aquele Juiz preparado, enérgico e laborioso. Não se limitou, contudo, às suas altas e nobilitantes funções, pois logo se integrou na comunidade Varginhense, em posição de destacada liderança. Muitas foram as suas iniciativas, conhecidas da nossa população.

Lembro que nos primeiros anos de sua presença em Varginha, reuniu ele dezenas de profissionais do direito, figuras da vida social, em torno da ideia da criação de uma Faculdade de Direito. Sob a sua inspiração o empreendimento prosperou, sendo criada a Fundação Educacional de
Varginha, como mantenedora do estabelecimento.

Todas as p r o v i d ê n c i a s legais foram tomadas. A Faculdade foi autorizada pelo MEC e já estava r e c o n h e c i d a o f i c i a l m e n t e
quando formou a sua primeira turma de bacharéis em direito. O Doutor Bemfica comandou todas as providências para o êxito da Faculdade. Foi Presidente da Fundação.

Foi Diretor da Faculdade. Lecionou diversas matérias, ministrando aulas brilhantes e apreciadas até mais dos noventa anos de idade. Nos últimos anos de sua vida, afastado da regência, ainda coordenou o curso de direito e já recluso pela pandemia, quando falávamos por telefone, ele sempre
preocupado, perguntava: COMO VAI A FACULDADE? Além de Magistrado, o Doutor Bemfica, depois de formado na Faculdade de Direito da UFMG, a nossa tradicional escola, foi Promotor de Justiça, Advogou, militou na política e, por concurso público, ingressou na Magistratura Mineira.

Depois de promovido para Belo Horizonte e aposentado, exerceu a advocacia em Varginha e na região. Deixou ele uma vasta produção intelectual, com dezenas de livros por ele escritos e publicados pelas melhores editoras do país, sobre os temas mais diversificados da ciência do direito. Suas obras são apreciadas e citadas em todo o país, como trabalhos jurídicos de grande valor.

Em Varginha, a par das atividades já referidas, aceitou presidir o Varginha Tênis Clube, mobilizando centenas de pessoas, para obter recursos
e construir em tempo recorde a sede social daquele clube, completando um projeto que vinha desde a criação da praça de esportes, pelo Governo
do Estado, nos moldes do Minas Esporte Clube de Belo Horizonte.

Aqui foram criados e educados os quatro filhos do casal, Márcio, Álvaro, Thaís e Tânia, sendo que a última filha nasceu em Varginha, levada à Pia Batismal por mim e pela Santusa, honrados com o convite para sermos seus padrinhos. O Doutor Bemfica é descendente de uma das famílias mais tradicionais, antigas e nobres da cidade de Airuoca, tendo nascido em Bocaina de Minas, um dos muitos Municípios originários de Airuoca.

Seu pai, Álvaro Bemfica, de saudosa memória, foi farmacêutico e chefe político da Bocaina durante toda a sua existência, gozando de grande prestígio. O mesmo sucedeu com seu tio, Jonas Bemfica, igualmente prestigioso, farmacêutico e chefe político em Airuoca, onde viveu e
deixou ilustre descendência.

Desta forma, Doutor Francisco Vani Bemfica sempre honrou as dignas tradições de sua família. Educou todos os filhos e netos, todos formados
em nível superior. Márcio foi Juiz de Direito e hoje, aposentado, advoga. Álvaro formou-se em Medicina, sendo um dos melhores e mais conceituados cirurgiões de região, merece elogio a dedicação por ele prestada como filho e médico ao seu genitor, a quem assistiu até os últimos momentos da vida.

Thaís é Defensora Pública. Minha afilhada Tânia, também graduada em direito, é professora. Filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e outros parentes seguramente têm por modelo os bons exemplos de seu ascendente.

Todas as homenagens recebidas e a receber pelo Notável falecido são e serão sempre merecidas.

Foto destaque: Divulgação

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