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ARTIGO: Nosso pai – Fernando Crisóstomo da Silva

Temos pensado muito, sobretudo nesses últimos meses, que vida e morte são irmãs gêmeas. Ambas se completam. Os gregos gostavam de vê-las passar pela roca de Cloto, pelas mãos de Láquesis e pela tesoura afiada de Átropos, irmãs e donzelas, senhoras do destino dos homens.

Mais belamente, entretanto, e com maior firmeza, pois brota da Palavra do Senhor, a visão cristã da vida e da morte nos esclarece e nos conforta: “Se vivemos, vimemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8).

Em conformidade com São Paulo, São Francisco de Sales entendia esses dois mistérios: “O tempo para procurar Deus é a vida. O tempo para encontrar Deus é a morte. O tempo para desfrutar Deus é a eternidade.” No mesmo tom, o Servo de Deus Dom Othon Motta dizia: “A vida é uma ascensão”. E a morte, “hora da partida, hora que vem iluminada com os esplendores da eternidade.”

Vida e morte, portanto, confraternizam-se como tons dissonantes que, à primeira audição, parecem disformes e incompatíveis, mas, nas mãos do artista, transformam-se em harmoniosos acordes, que nos deixam suspensos de admiração.

Vida e morte são gestos genesíacos de Deus: na expiração, Ele cria a vida do homem – “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente.” (Gn 2,7); na inspiração, Ele transforma a morte numa absorção inefável, como que assumindo para sempre a vida de seus filhos, tal qual fez com a Santíssima Virgem Maria, no mistério da Assunção.

É assim que entendemos a vida e a morte de nosso pai, Fernando Crisóstomo da Silva.

Cumpriu-se nele a bênção de Deus ensinada pelo Êxodo: “Honra teu pai e tua mãe para que tenhas vida longa sobre a terra”(Ex 20, 12). Viveu 94 anos e meio. Viveu bem os seus dias, conforme gostava de dizer: “Vivi muito e fiz tudo de bom que gostaria de ter feito. Agora é aceitar o que Deus quer.”

E o que ele gostaria de ter feito? Ser músico, trabalhar como alfaiate, casar-se com nossa amada mãe, Rosinha, constituir família, cumprir seus deveres como cidadão, praticar esportes. E em todos os aspectos, foi bom.

Cantou os louvores de Deus nas liturgias e as bonitas canções dos homens, nas rádios Nacional e Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, e nas serestas, por Minas a fora. Tocou lindamente o saxofone, a clarinete e o violão. Era exigente consigo e conosco, firme nas opiniões e decisões, carinhoso e emotivo. Amou de forma sincera. Era simples, autêntico, desapegado. Aguerrido, venceu os vícios do alcoolismo e do fumo.

Veio-lhe a doença pertinaz e dolorosa, mas com a bênção da resignação. “Todo ele rangia, como um moinho velho, cada vez que se mexia, e respondia lentamente, porque era de idade avançada e começava a perder a clareza na articulação das palavras, mas tornava-se cada vez mais luminoso e compreensivo no objeto mesmo da sua troca. Porque, com as mãos trêmulas, amealhava ainda o seu trabalho, que se ia tornando elixir cada vez mais sutil.” (Saint-Exupéry)

Então, “quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite chegava ao meio de seu curso, a palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real” (Sb 18,14) e lhe fez o chamamento definitivo. “Ele, evadindo-se tão prodigiosamente de sua velha carne ferida e encarquilhada, tornava-se cada vez mais feliz, cada vez mais inacessível. Cada vez mais imorredouro. Ao morrer, levava, sem dar conta disso, as mãos cheias de estrelas…” (Saint-Exupéry)

Para concluirmos, vamos bendizer ao Deus. Nossa oração de agradecimento será a letra da música de comunhão que nosso pai cantava e que marca tantas e tantas vidas:

“Não Vivo mais…Solo de Baixo

Não vivo mais, é meu Divino Mestre que vive em mim,

Ó prodígio de amor!

Que desejar, no exílio terrestre,

Se já possuo meu Jesus, meu Salvador?

Virgem fiel, celeste criatura,

Meu coração sem mancha conservai,

Até morrer, minh’alma sempre pura,

Ó Mãe, guardai!

Sempre mais pura, ó Virgem ilibada.

Convosco viverei e, lá no céu,

Na pátria desejada,

Jesus contemplarei.”

 

Nascimento para o mundo: 27 de janeiro de 1925 – S. Gonçalo do Sapucaí.

Nascimento para Deus: 26 de junho de 2019 – Varginha.

 

Gratidão a nossos familiares e amigos pelas presenças e orações. E às equipes do Hospital Bom Pastor e do PAD, pela presteza e bondade nos atendimentos.

 

Varginha, 02/07/2019

Família Albinati Silva

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