Pesquisa desenvolvida no campus Nepomuceno faz levantamento das intelectuais brasileiras que contribuíram para o debate no país.
Foto: CSul.
“Feminismo não é uma Disneylândia. Tem correntes contra e a favor, tem dissidências, tem várias posições ali dentro”. A fala da escritora brasileira Heloisa Buarque de Hollanda, 80 anos, para entrevista à Revista AzMina, reflete a diversidade dos pensamentos do feminismo brasileiro que, atualmente, enfrenta a sua efervescência. A trajetória dele no País é marcada por conquistas, lutas e diálogos.
Heloisa Buarque de Hollanda, referência na história do feminismo brasileiro e na formação da nova geração de feministas, publicou alguns livros sobre a temática, como “Explosão Feminista; Pensamento Feminista – Conceitos Fundamentais”, “Pensamento Feminista Brasileiro: formação e contexto”, e “Pensamento Feminista Hoje: Perspectivas Decoloniais”. As discussões e as pesquisas da escritora serviram de base para o trabalho desenvolvido por pesquisadoras do CEFET-MG campus Nepomuceno.
A professora de Língua Portuguesa e Literatura Cristiane Côrtes e as alunas Karen Inácio e Raíssa Rangel iniciaram o projeto em fevereiro de 2020 com a proposta de realizarem o levantamento do maior número possível de intelectuais brasileiras que contribuíram para a defesa dos direitos das mulheres no País e estabelecerem um diálogo entre o texto literário e os movimentos sociais ligados a esse pensamento. “A ideia surgiu da leitura de uma antologia sobre o pensamento feminista brasileiro da crítica Heloisa Buarque de Hollanda em que, logo na introdução, a autora diz o quanto ainda são precários os estudos sobre o feminismo no Brasil. Mesmo que socialmente, sempre estivemos dentro dos embates e conquistas no tocante aos direitos das mulheres, mas academicamente há muito o que se fazer ainda. Diante dessa questão, o projeto se coloca como uma tentativa de organizar cronologicamente este pensamento e indicar como a literatura e a música são importantes como meios de difusão e repercussão do feminismo no Brasil”, explica a professora.
Além da leitura do livro “Pensamento feminista brasileiro: formação e conceito”, as pesquisadoras se enveredaram no clássico de Simone de Beauvoir, “O Segundo Sexo”, entre outras escritoras. Foi feito um levantamento dos nomes das intelectuais, a partir de uma linha do tempo do pensamento feminista elaborada pela ONG “Quem ama, não mata”, e depois outros nomes surgiram. Os nomes foram organizados em uma planilha e dispostos em ordem cronológica. A partir da planilha, as pesquisadoras escolheram as escritoras e compositoras para compreender como esse pensamento refletiu na escrita literária. As orientandas escolheram textos literários de cerca de cinco escritoras em cada período para serem analisados.
A pesquisa resultou em uma planilha de dados com cerca de 110 intelectuais que contribuíram para o que hoje podemos chamar de pensamento feminista. No material, há a descrição da contribuição de cada mulher, obras publicadas e uma minibiografia. A primeira mulher listada é a jornalista Maria Josefa Barreto, nascida em 1775, e a última é a ativista Juliana de Faria, nascida em 1992.
A motivação para o desenvolvimento da pesquisa, de acordo com as pesquisadoras, deve-se à falta de um estudo sistematizado, inclusive no currículo escolar, que evidencie a trajetória do pensamento feminista e ressalte a luta das várias intelectuais do passado que abriram caminho para uma sociedade mais justa com as mulheres.
Nesse contexto, a professora aponta a importância da temática da pesquisa para a sociedade. “O projeto é grandioso porque propõe a leitura de movimentos sociais, históricos e literários sobre a ótica de mulheres intelectuais que estiveram à frente das lutas para as diversas conquistas que tivemos em vários setores da sociedade, muito antes do conceito de feminismo existir”. Segundo Cristiane, projetos como este, além de trabalhar a metodologia de pesquisa e investigação, sensibilizam as alunas envolvidas e também toda a comunidade.
Fonte: CEFET-MG.