1º Fórum Regional de Saúde de Doenças Negligenciadas é realizado em Passos
O encontro reuniu pesquisadores da Universidade Federal do Estado de Minas Gerais e abordou os aspectos epidemiológicos, clínicos e políticas públicas para o enfrentamento da tuberculose e hanseníase
Foto: Superintendência Regional de Saúde de Passos
O primeiro fórum regional sobre doenças negligenciadas com o foco na tuberculose e na hanseníase foi realizado na sexta-feira (20/9) pela Santa Casa de Misericórdia de Passos, por meio da sua Unidade de Ensino e Pesquisa (Unep), em parceria com a Superintendência Regional de Saúde ((SRS) de Passos. O evento contou com a participação do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da SRS Passos na organização e foi destinado aos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), secundária e terciária, para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose e hanseníase e aberto a estudantes de medicina e enfermagem.
Denominado I Fórum Regional de Saúde: Doenças Negligenciadas e Ações de Enfrentamento, o evento aconteceu durante todo o dia no auditório do campus de Passos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSul de Minas). A abertura teve a presença do secretário municipal de Saúde de Passos, Thiago Agnelo de Souza Salum; do diretor técnico da Santa Casa, José Ronaldo Alves; do oftalmologista Wesley Ribeiro Campos e de diversos profissionais de epidemiologia, entre médicos e enfermeiros de Passos e vários municípios das macrorregiões de Saúde Sudoeste, Sul e Extremo Sul.
A superintendente da SRS Passos, Kátia Rita Gonçalves, participou da abertura do evento, destacando a importância de parcerias entre os órgãos públicos estaduais, municipais, prestadores de serviços de saúde e a universidade para o desenvolvimento de estratégias de vigilância e prevenção. Nos casos da tuberculose e hanseníase, Kátia Gonçalves disse que essas estratégias devem envolver o estímulo ao diagnóstico e à avaliação precoces, tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose e hanseníase.
“Deve-se identificar e pactuar fluxos para o serviço que será referência em atenção secundária, podendo ser um Serviço de Atenção Especializada (SAE) ou um especialista (infectologista ou pneumologista) no próprio município ou em um município vizinho”, explicou a superintendente. “O propósito do fórum foi de fomentar e aplicar estratégias para a prevenção da tuberculose e hanseníase, com ênfase na busca ativa de sintomáticos, diagnóstico e tratamento precoce. Inclui ainda a busca ativa de contatos e ações de vigilância em saúde”, acrescentou.
Os médicos, professores e pesquisadores do Hospital das Clínicas (HC) e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Silvana Spíndola de Miranda e Marcelo Grossi de Araújo foram convidados para ministrar a capacitação.
Pneumologista e coordenadora do Ambulatório de Tuberculose e do Laboratório de Pesquisa em Microbactéria do HC/UFMG, Silvana Spíndola abordou em sua apresentação as características gerais e epidemiológicas; métodos e exames disponíveis para diagnóstico; esquemas terapêuticos disponíveis para tratamento; identificação de populações vulneráveis e prioritárias para tratamento; aspectos referentes à vigilância, dentre outros. “O que é importante para a gente frisar é que esses atendimentos são relacionados ao Sistema Único de Saúde. Além da assistência clínica prestada pelos profissionais em unidades do SUS, os medicamentos são ofertados e disponibilizados pelo SUS sem ônus e o tratamento da tuberculose tem cura”, disse.
Dermatologista do Ambulatório de Dermatologia HC/UFMG, Marcelo Grossi trouxe informações atualizadas sobre o contexto epidemiológico, diagnóstico da hanseníase, formas clínicas, contatos e tratamento dos pacientes, com foco principal na atenção primária, mas avançando na consolidação da atenção secundária na região de Passos. “Dentro da abordagem da hanseníase, a gente tem sim pontos novos que, em alguns deles, já estão sendo implementados tanto no diagnóstico e até mesmo no tratamento”, disse.
Aumento de casos
Segundo a médica infectologista da Santa Casa, da Unep e do Laboratório de Infectologia de Passos, Priscila Freitas das Neves, um aumento de casos de tuberculose e hanseníase ocorridos nos anos de 2022 e 2023 chamou a atenção dos especialistas dessas instituições. “Ficou mais clara para nós a necessidade de capacitar as equipes da atenção primária, secundária, especialmente a primária, onde o paciente busca o primeiro atendimento”, disse.
De acordo com o Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi) da SRS Passos, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde (MS), foram lançados 255 casos de tuberculose e 24 de hanseníase nos últimos cinco anos, em Passos. As notificações de tuberculose vêm aumentando ano a ano no município desde de 2020, quando 38 casos estavam sob investigação. Em 2023, foram 67 notificações e, em 2024, até 23 de setembro, o Sinan já registra 52 casos.
Na área de abrangência da SRS Passos, 26 municípios somam 586 casos notificados de tuberculose em cinco anos, com os números variando de 96 em 2020 a 147 em 2023 e 116 até setembro deste ano. As notificações de hanseníase totalizam 108 casos nesses cinco anos.
Metas e desafios
De acordo com Silvana Spíndola, para o controle da tuberculose no Brasil, as metas da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão sendo trabalhadas para serem alcançadas até o ano de 2030. Esses objetivos são 90% de cobertura de tratamento e prevenção para o ano de 2027, com 100% de cobertura de diagnóstico pelos testes recomendados pela OMS, 100% de cobertura pela estratégia de proteção social para as pessoas afetadas e 100% de eliminação da doença até 2030.
Segundo Marcelo Grossi, uma estratégia global foi traçada para o período de 2021 a 2030 para superar os desafios do controle da hanseníase, como o diagnóstico tardio, o estigma e os preconceitos arraigados sobre a doenças e a redução da incapacidade física e reabilitação do paciente. Essa estratégia está sustentada em quatro pilares, que vão da implementação de roteiro integrado para o país, visando zerar os casos da doença, à detecção precoce de casos, diagnóstico preciso e tratamento oportuno.
Fonte: SES-MG